Superestrelas por um mundo com menos pobreza

Nações Unidas, 27/11/2012 – A iniciativa Why Poverty? (Por Que a Pobreza?) reúne 30 curtas-metragens documentários, de premiados diretores e de novos talentos do cinema, sobre diferentes aspectos da miséria, como desigualdade de gênero, segregação residencial, ajuda e comércio.

Superestrelas por um mundo com menos pobreza

O diretor sueco Bosse Lindquist coloca o cinema a serviço da luta contra a pobreza. - Cortesia do entrevistado

Bosse Lindquist é um deles. De 25 a 30 deste mês, os filmes serão transmitidos para todo o mundo por intermédio de 62 canais nacionais, chegando a 500 milhões de pessoas. Depois haverá um debate na internet sobre o assunto.

A Why Poverty? foi lançada em 27 de setembro na Organização das Nações Unidas (ONU) e é administrada pela Steps, uma entidade com sedes na Dinamarca e na África do Sul. A agenda não busca arrecadar dinheiro ou impulsionar uma solução única para a pobreza mundial, mas provocar discussões sobre todos os aspectos possíveis da pobreza.

Em sua colaboração, o cineasta sueco Bosse Lindquist aborda o ponto de vista da caridade, com o documentário Give us the Money (Nos Dê Dinheiro). Lindquist conversou com a IPS sobre o filme e o fato de focar nas estrelas de rock irlandesas Bob Geldof e Bono, que há anos defendem os mais pobres.

IPS: Como lhe ocorreu a ideia do filme?

BOSSE LINDQUIST: Fui convidado pela BBC, a SVT e demais editores encarregados, para lançar um olhar para a solidariedade e o desenvolvimento. Após ter explorado o mundo dos famosos, me dei conta de que Geldof, que iniciou de muitas maneiras a participação das celebridades na luta contra a pobreza, era um dos poucos atores consistentes no longo prazo. Ele é ativista desde 1984, quando começou arrecadando dinheiro para as vítimas da fome e depois trabalhando pela mudança de sistema. Logo ficou claro que Bono unira-se a ele nesta luta, já nos anos 1990, e que ambos, cooperando com muitos outros indivíduos e organizações, conseguiram êxitos destacáveis. E ainda o fazem.

IPS: Os shows e as campanhas iniciadas por artistas como Bono e Geldof conseguiram ajudar os pobres?

BL: Sim, e também é importante mencionar que não há estudos científicos mostrando exatamente o impacto que causaram. Lamentavelmente, o mesmo ocorre com a incidência geral da ajuda para o desenvolvimento econômico na África. Estes são assuntos muito complicados, que dependem de múltiplos fatores. De todo modo, fica claro que Bono e Geldof tiveram um papel importante ao conseguirem que, em 2005, fosse cancelada a elevada dívida da África com o mundo rico. Eles também ajudaram o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a criar o Pepfar (Plano de Emergência do Presidente para Alívio da Aids) e a fazer com que o mundo rico financiasse a Gavi (iniciativa mundial para a vacina contra a aids). Estes dois projetos, juntos, financiam uma grande parte dos medicamentos que salvam vidas e que atualmente chegam a oito milhões de africanos infectados com o vírus HIV, causador da aids.

IPS: Uma superestrela rica e branca pode se converter em porta-voz dos pobres da África?

BL: Bono e Geldof se tornaram hábeis defensores e lobistas que trabalham por maiores recursos para os extremamente pobres da África, bem como por uma mudança de sistema em nível mundial para conseguir legislação importante a respeito da transparência da ajuda. Mas porta-vozes, não. Este trabalho deve ser feito por africanos.

IPS: Quanto do ativismo dos artistas se utiliza para potencializar sua imagem e quanto para ajudar?

BL: Pouquíssimas celebridades participam de atividades solidárias para se beneficiar artisticamente. Não há provas de que Bono e Geldof façam isto. Mas, naturalmente, seu genuíno ativismo, sem dúvida, não prejudica suas imagens nem suas vendas recordes de álbuns.

IPS: Dos países mais ricos, 20% consomem 80% dos recursos naturais do mundo. Alguns vivem no luxo absoluto, outros passam fome. É possível conseguir a igualdade?

BL: Simplesmente devemos trabalhar por um mundo mais justo e equitativo. Qualquer outra coisa será injusta. Também, esta é a única maneira, se queremos fazer o mundo mais pacífico e seguro. Creio que isto também é um requisito para fazer com que todos juntem esforços e combatam os perigos ambientais e o aquecimento global.

IPS: Como podemos conseguir isto?

BL: O combate tem que se desenvolver em numerosas plataformas. Uma luta muito importante tem a ver com aprovar leis para enfrentar a corrupção e o roubo nas transações entre países com recursos minerais ou agrícolas e os compradores no mundo rico. Outra luta enorme tem a ver com dar educação a cada criança na Terra. E uma terceira luta, obviamente, é para garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens.

IPS: O que diz sobre o conceito de "armadilha da ajuda", teoria segundo a qual os países pobres podem ficar dependentes da ajuda externa?

BL: Não é tanto o caso de os países mais pobres se tornarem dependentes, mas sim de os funcionários de seus governos ficarem dependentes. Há um elemento corruptor em todas as grandes transferências de dinheiro, e há um perigo constante de que a pessoa seja seduzida por isto. Mas o fato de tal "armadilha da ajuda" existir não é motivo para freá-la, embora seja um motivo muito forte para cobrar transparência em relação a quanta ajuda se dá e se distribui, com meios inerentes para que os próprios receptores controlem como se desembolsa o dinheiro dado a um país. Envolverde/IPS

Correspondentes da IPS

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