Nuvens negras novamente sobre Gaza

Jerusalém, Israel, 27/11/2012 – Os bombardeios israelenses prosseguem contra Gaza, e os palestinos temem que este seja apenas o começo de outra grande ofensiva sobre seu território e, assim, não há para onde fugir.

Nuvens negras novamente sobre Gaza

Uma manifestação em Jerusalém contra a ofensiva israelense. - Jillian Kestler-D"™Amours/IPS

"As pessoas estão muito preocupadas com o que virá. Esta manhã ouvimos ataques aéreos, e até agora a situação é muito tensa", disse ontem à IPS o subdiretor do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR), Jaber Wichah, por telefone, da cidade de Gaza. "A população está muito preocupada, especialmente pelos ataques aéreos e pelas ameaças do governo israelense", acrescentou.

Na tarde do dia 14, Israel matou Ahmad Jabari, chefe do braço armado do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica). Um míssil atingiu o carro em que viajava na cidade de Gaza. As forças israelenses disseram que esse foi apenas "o primeiro objetivo" de uma campanha militar destinada a dissuadir os combatentes palestinos de continuarem disparando foguetes contra cidades do sul de Israel. O Hamás afirmou que a morte de Jabari "abiu as portas do inferno" para Israel.

Nas primeiras 24 horas do intenso bombardeio israelense foram informadas as mortes de 13 palestinos, incluindo três menores de idade e uma mulher grávida. Por sua vez, a mídia de Israel informou que combatentes palestinos dispararam mais de cem foguetes contra esse país e que três pessoas morreram quando um deles atingiu a casa em que estavam, na localidade de Kiryat Malachi, 25 quilômetros ao norte de Gaza.

"Nossos médicos e nosso pessoal de saúde têm muita experiência e estão prontos para enfrentar a situação, mas o problema é a falta de medicamentos", disse o vice-ministro de Saúde em Gaza, Hassan Khalaf, acrescentando que os hospitais locais funcionam com menos de 60% dos medicamentos essenciais. Khalaf disse à IPS que, até o meio-dia de ontem, mais de cem palestinos em toda Gaza ficaram feridos pelos ataques israelenses.

Segundo Khalaf, as autoridades do Egito estavam dispostas e preparadas para facilitar o transporte de feridos através da passagem de Rafah. "Este ataque contra civis deve parar, e todo o mundo deve se opor à agressão de Israel", protestou. O Estado judeu argumenta que foi atacado primeiro pelo Hamás, cujos combatentes lançaram uma série de foguetes contra o sul de seu território. Mas um informe do Instituto para o Entendimento no Oriente Médio apresenta uma cronologia diferente dos acontecimentos.

A última explosão de violência começou no dia 8 deste mês, quando soldados israelenses invadiram a Faixa de Gaza. Então houve um tiroteio com palestinos, no qual morreu um garoto de Gaza, de 12 anos. Os combatentes palestinos, depois, explodiram um túnel que atravessa a fronteira entre Gaza e Israel e dispararam um míssil antitanque contra um jipe do exército israelense, ferindo dois soldados. Em resposta, Israel reiniciou os bombardeios sobre Gaza, enquanto os palestinos lançaram foguetes contra cidades do sul israelense.

Na última semana, cinco civis palestinos (incluindo três crianças) perderam a vida e mais de 50 ficaram feridos. Com a mediação do Egito, as duas partes acordaram um cessar-fogo no dia 12, mas a trégua foi violada com o assassinato de Jabari. "Não aceitaremos uma situação em que cidadãos israelenses sejam ameaçados pelo terror dos foguetes. Nenhum país aceitaria isto. Israel não aceitará", disse aos jornalistas no dia 14 o primeiro- ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Israel batizou esta ofensiva contra Gaza de Operação Pilar de Defesa.

"Se necessário, o exército de Israel está preparado para expandir a operação", advertiu Netanyahu, sugerindo que poderia ordenar uma invasão militar por terra. Ontem, as forças israelenses lançaram panfletos sobre Gaza aconselhando os palestinos a "se responsabilizarem e evitar ficar próximos de combatentes e instalações do Hamás e de outras organizações terroristas que possam supor um risco para sua comunidade".

A Faixa de Gaza, com 1,7 milhão de habitantes em uma área de 365 quilômetros quadrados, é um dos lugares mais densamente povoados do mundo. Os ataques israelenses "poderiam chegar a qualquer parte, e toda Gaza poderia ficar ameaçada. Segundo esses panfletos, não há nenhuma área específica ameaçada. Todas as pessoas são vulneráveis", disse Jaber Wichah.

O rompimento do cessar-fogo assemelha-se ao ocorrido em 2008, quando Israel lançou uma operação contra combatentes palestinos em Gaza provocando uma resposta do Hamás com foguetes contra cidades do sul israelense. Isto, por sua vez, foi usado por Israel para justificar uma ofensiva em grande escala chamada Operação Chumbo Derretido, que durou três semanas e deixou mais de 1.400 palestinos mortos, incluindo pelo menos 300 crianças. A operação recebeu condenação em nível internacional.

No entanto, hoje Israel enfrenta um contexto diferente. Os levantes populares da Primavera Árabe no Oriente Médio e norte da África alteraram a situação política regional. Agora, o Egito, governado por Mohammad Morsi, da Irmandade Muçulmana, retirou, no dia 14 à noite, seu embaixador de Israel em protesto pelos ataques. Também há dúvidas sobre os motivos por trás da ofensiva de Israel, que está em meio a uma campanha eleitoral.

"É um fato objetivo que a operação serve muito bem aos propósitos de Netanyahu: desviar a atenção e fazer com que a agenda pública se concentre em assuntos militares e não sociais", disse à IPS o ativista Adam Keller, porta-voz do movimento pacifista israelense Gush Shalom. Um punhado de manifestações aconteceu poucas horas depois de começar a violência, no dia 14. Em Jerusalém, jovens palestinos gritaram "Netanyahu, os habitantes de Gaza cavarão seu túmulo". Envolverde/IPS

Jillian Kestler-D'Amours

Originally from Montreal, Quebec, Jillian Kestler-D'Amours is an independent reporter and documentary filmmaker based in Jerusalem since May 2010. She is a regular contributor to Free Speech Radio News, The Electronic Intifada and Al Jazeera English, and her first documentary film, ‘Sumoud: The Struggle for al-Araqib’, will be released by the Alternative Information Centre in Fall 2011.

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