A poluição é um fator subestimado nos ODS

O rio Quibú, que passa pelo bairro do Náutico, em Havana, sempre está cheio de lixo. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

O rio Quibú, que passa pelo bairro do Náutico, em Havana, sempre está cheio de lixo. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

 

Uxbridge, Canadá, 30/3/2015 – A poluição será, com toda probabilidade, o problema de saúde mundial mais urgente nos próximos anos, se não houver prevenção nem gestões de limpeza eficazes, afirma os especialistas. A contaminação do ar, da água e do solo mata cerca de nove milhões de pessoas por ano e afeta a saúde de mais de 200 milhões em todo o mundo. Muitas outras morrem mais devido à contaminação do que por malária e HIV/aids combinados.

O desenvolvimento e o aumento dos níveis de poluição seguem estreitamente vinculados, como se evidencia claramente na China e na Índia. Mas os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) oferecem uma grande oportunidade para frear a contaminação e reorientar as economias para vias de desenvolvimento limpo e verde.

“A chave para o desenvolvimento e a melhoria da saúde de todos exige estratégias novas e limpas para o desenvolvimento econômico”, afirmou Fernando Lugris, representante especial do ministro das Relações Exteriores do Uruguai para assuntos de ambiente e funcionário da embaixada de seu país em Berlim. “Não se pode ignorar o impacto global dos produtos químicos tóxicos nos ODS”, afirmou à IPS.

Existem pelo menos 143 mil produtos químicos artificiais registrados, e a maioria não foi submetida a estudos sobre suas possíveis consequências para a saúde. Além disso, o mundo gera mais de 400 mil toneladas de resíduos perigosos a cada ano, conforme denunciou Julian Cribb em Planeta Envenenado: Como a Constante Exposição a Produtos Químicos Artificiais Arrisca Sua Vida.

A neve em cima do monte Everest está muito contaminada para se beber. Um estudo concluiu que os recém-nascidos estão contaminados com uma média de 212 substâncias químicas diferentes, segundo Cribb.

Os ODS serão uma nova série de objetivos, metas e indicadores universais que os países deverão utilizar para definir suas agendas e políticas públicas entre 2016 e 2030. Eles ampliam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o marco aplicado entre 2000 e 2015, que estavam concentrados nos países do Sul em desenvolvimento. Embora poucos ODM tenham sido alcançados, foram cruciais para enfocar a ajuda e as políticas de desenvolvimento, bem como um ponto de referência muito visível para medir os esforços internacionais.

Os 17 ODS propostos incluem metas para erradicar a pobreza e a fome, conseguir uma vida saudável, proporcionar uma educação de qualidade, conseguir a igualdade de gênero e reduzir as desigualdades. O terceiro ODS, focado em “garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todos de todas as idades”, inclui uma meta específica de redução da contaminação. Ele estipula: “Reduzir substancialmente até 2030 o número de mortes e doenças como consequência de produtos químicos perigosos e da contaminação do ar, da água e do solo”.

“A meta é genial, mas nos preocupa o indicador proposto atualmente”, apontou Richard Fuller, da Terra Pura, uma organização independente norte-americana, antes conhecida como Instituto Blacksmith, que ajuda a limpar locais onde é lançado lixo tóxico nos países mais pobres. A Terra Pura também integra a Aliança Mundial para a Saúde e Contra a Contaminação (GAHP).

Os indicadores dos ODS são ferramentas ou métodos para medir o progresso no êxito de uma meta. Contar com o indicador adequado é fundamental para saber se o objetivo foi alcançado, explicou Fuller. Porém, o único indicador atual é a mediação dos níveis de poluição do ar nas zonas urbanas. “Não há nada neste momento sobre a água, o solo ou a poluição do ar interior”, destacou.

Mas há tempo para mudar essa situação. Os ODS serão aprovados na sessão da Assembleia Geral da ONU dos dias 25, 26 e 27 de setembro. A Comissão de Estatística das Nações Unidas, que prepara os indicadores para os 17 ODS e suas 169 metas, avisou que não poderá concluir seu trabalho antes de março do próximo ano.

A GAHP, junto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Alemanha, Suécia e Uruguai propuseram um conjunto mais amplo de indicadores baseados em medições de mortalidade e deficiência no contexto da metodologia denominada carga global de enfermidade. Embora se entenda que a exposição à contaminação tem efeitos graves sobre a saúde, isso pode ser difícil de quantificar.

A Organização Mundial da Saúde e o Instituto para os Indicadores e a Avaliação da Saúde, da Universidade de Washington, desenvolveram uma forma de medir as consequências da contaminação na saúde, utilizando os anos de vida ajustados por incapacidade. “Este é um indicador aceito, mas tem que ser melhorado, já que ainda não cobre os impactos da contaminação dos solos”, disse Fuller.

A GAHP propôs que o indicador da redução da contaminação mostre as taxas atuais de mortalidade e incapacidade geradas pelas diferentes formas de contaminação, em comparação com uma base de referência de 2012 fixada mediante a metodologia da carga global de enfermidade. “A contaminação afeta tudo e todos, mas a consciência de suas repercussões é escassa. Este é o momento para colocar o tema sobre a mesa”, ressaltou Lugris. Envolverde/IPS

* Stephen Leahy ganhou em 2012 o prêmio Global Príncipe Alberto/Nações Unidas para jornalismo sobre mudança climática e é autor do livro Your Water Footprint: The Shocking Facts About How Much Water We Use To Make Everyday Products (Sua Pegada de Água: Dados Impactantes Sobre a Quantidade de Água que Utilizamos para Fazer os Produtos Cotidianos).

Stephen Leahy

Stephen Leahy is the lead international science and environment correspondent at IPS, where he writes about climate change, energy, water, biodiversity, development and native peoples. Based in Uxbridge, Canada, near Toronto, Steve has covered environmental issues for nearly two decades for publications around the world. He is a professional member of the International Federation of Journalists, the Society of Environmental Journalists and the International League of Conservation Writers. He also pioneered Community Supported Environmental Journalism to ensure important environmental issues continue to be covered.

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