Tabus contra anticoncepcionais aumentam gravidez precoce no Zimbábue

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O Zimbábue experimenta um significativo aumento no número de adolescentes grávidas. Foto: Jeffrey Moyo/IPS

Bulawayo, Zimbábue, 6/10/2014 – O futuro é incerto no Zimbábue para adolescentes como Samantha Yakubu, que engravidou aos 15 anos e o rapaz, de 16, com quem mantivera relações sexuais, se negou a aceitar sua responsabilidade, argumentando que não estava seguro de que o filho era seu. Yakubu teve de abandonar a escola, como fazem anualmente muitas outras adolescentes sexualmente ativas.

O uso de anticoncepcionais continua sendo um assunto controvertido e divisor neste país de 13,7 milhões de habitantes. Pais e educadores concordam que a atividade sexual entre a população adolescente aumenta. Mas não chegam a um acordo sobre como lidar com o número maior de gravidezes na adolescência.

O Zimbábue conseguiu importantes avanços em matéria de saúde reprodutiva, inclusive deter as novas infecções de HIV, vírus causador da aids, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, várias agências da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam para o crescente número de adolescentes grávidas, que segundo os especialistas revela a falta de uso de profiláticos e de métodos de planejamento familiar.

Para o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o uso de anticoncepcionais no Zimbábue é de 59%, um dos mais altos na África subsaariana. Mas ainda está abaixo dos 68% que o governo se comprometeu a alcançar até 2020 na Cúpula sobre Planejamento Familiar, realizada em Londres em 2012.

A proposta do ano passado para distribuir camisinhas gratuitamente nas escolas esbarrou na incredulidade e no desagrado dos pais, que alegaram ser equivalente a promover a promiscuidade entre os estudantes. Ainda não há um acordo entre pais e educadores sobre quando começar a proporcionar educação sexual aos adolescentes.

“A falta de informação médica séria e adequada sobre a puberdade deixa os jovens à mercê de seus pares e das buscas na internet sem uma orientação”, advertiu à IPS Stewart Muchapera, analista em comunicações do escritório do UNFPA no Zimbábue. “A fertilidade entre adolescentes de 15 a 19 anos entre 2010 e 2011 foi de 115 em cada mil meninas, uma significativa alta em relação ao nível de 99 por mil registrado entre 2005 e 2006”, afirmou.

Muchapera acrescentou que a localização geográfica também determina a quantidade de gravidez precoce: as adolescentes de zonas rurais apresentam o dobro de probabilidade de engravidar do que as das cidades. Há 70 adolescentes grávidas para cada mil meninas nas cidades, enquanto nas zonas rurais o índice sobe para 144.

A Pesquisa de Demografia e Saúde do Zimbábue indica que nove em cada dez adolescentes sexualmente ativas entre 15 e 19 anos têm vínculos do tipo matrimonial. Além disso, ressalta que duas em cada três jovens que mantiveram relações sexuais antes dos 15 anos o fizeram contra sua vontade. O risco de morte materna é o dobro para jovens dessa faixa etária do que para as de 20 anos, segundo os especialistas, e é cinco vezes maior para meninas com idades entre dez e 14 anos. A mortalidade materna no país é de 790 para cada cem mil nascidos vivo, e entre os menores de cinco anos chega a 93 mortes por mil nascidos vivos.

Janet Siziba, educadora do Conselho de Ajuda de Matabeleland, observou que existe um estigma vinculado à gravidez precoce, que obriga muitas jovens a abandonarem seus estudos ou as condena a sofrer problemas econômicos depois do parto, e especialmente se o pai adolescente desaparece. “Pode-se evitar tanto a gravidez como o HIV, se aumentar o uso de camisinhas e, talvez o mais importante, o de outros métodos, como a camisinha feminina e os anticoncepcionais”, destacou à IPS.

Mas, com as mensagens confusas divulgadas sobre os anticoncepcionais, dificilmente essa tendência mudará no curto prazo. De fato, o secretário-geral do país, Tobaiwa Mudeded, alertou as mulheres a não usarem esses métodos porque poderiam causar câncer e seriam uma tentativa dos países desenvolvidos no sentido de frear o crescimento populacional na África.

Organizações como o Conselho Nacional de Planejamento Familiar do Zimbábue consideraram seus comentários especialmente contraproducentes, num momento em que o sistema de saúde se esforça para diminuir a mortalidade materna e oferecer uma adequada atenção pré-natal.

Por meio da Estratégia Nacional de Saúde Sexual e Reprodutiva, o Ministério da Saúde oferece aos adolescentes anticoncepcionais em instituições públicas como clínicas e hospitais. Mas os educadores se preocupam quanto aos jovens não estarem preparados para retirar anticoncepcionais à vista de todos. O resultado é o aumento da gravidez entre adolescentes de 15 a 19 anos, que passaram 21% do total, entre 2005 e 2006, para 24%, entre 2010 e 2011.

Os especialistas lamentam que as atitudes conservadoras com relação aos anticoncepcionais possam frear os esforços globais no contexto da iniciativa Planejamento Familiar 2020 (FP2020), que busca aumentar o acesso de mulheres e adolescentes de 15 a 19 anos a métodos de planejamento familiar nos países em desenvolvimento.

Segundo o FP2020, da Fundação Bill e Melinda Gates, nos países em desenvolvimento, 260 milhões de pessoas tiveram acesso a anticoncepcionais em 2012, e a iniciativa pretende que mais 120 milhões o tenham até 2020. Envolverde/IPS

* Este artigo foi publicado originalmente na edição especial do TerraViva ICPD@20: Acompanhamento e Potencial para Depois de 2015, publicado com apoio do Fundo de População das Nações Unidas  (UNFPA). O conteúdo é de autoria independente dos jornalistas da IPS

Ignatius Banda

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