Construir uma economia verde sem ficar no vermelho

smith 640 629x416 Construir uma economia verde sem ficar no vermelho

David Smith, coordenador do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade das Índias Ocidentais, acredita que o Caribe e outros pequenos Estados Insulares deveriam ser pagos por proporcionarem serviços ambientais. Foto: Peter Richards/IPS

 

Castries, Santa Lúcia, 15/4/2014 – Os países caribenhos são famosos por seu sol, sua areia e sua brisa quente, mas não pelo uso de energias renováveis. Isso é algo a ser corrigido em uma região que se caracteriza por crescente dívida externa, custos crescentes da energia, desigualdade, pobreza e falta de capital humano. A Comunidade de Nações (Commonweahth), de 53 membros, tenta preencher esse vazio com uma nova análise distribuída na terceira Conferência Bienal Global de Pequenos Estados, realizada, nos dias 25 e 26 de março, em Santa Lúcia, embora seu lançamento formal esteja marcado para o próximo mês.

Intitulado Transitioning to a Green Economy – Political Economy of Approaches in Small States (Transição para uma Economia Verde: Economia Política de Enfoques nos Pequenos Estados), o documento de 216 páginas inclui um estudo profundo de oito nações e seus esforços para construir economias verdes. Segundo David Smith, um dos autores do trabalho, nenhum desses oito países, entre eles três caribenhos (Granada, Guiana e Jamaica) conseguiu equilibrar o crescimento verde com o desenvolvimento. Os demais casos de estudo são Botswana, Maurício, Nauru, Samoa e Seychelles.

“O que é útil sobre esse estudo é que, mais do que fazermos dentro de nossas fronteiras para buscar soluções, podemos considerar as de outros povos, ou inclusive seus erros, e aprender com eles para nossas próprias dificuldades”, destacou Smith, coordenador do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável na Universidade das Índias Ocidentais (UWI).

O especialista afirmou que todos os países estudados revelaram que a grande dependência de energia importada e seus custos são fatores que limitam o crescimento. Uma aposta nas fontes renováveis beneficiaria inclusive outros setores da economia. “Dentro de nossas limitações temos que tratar de mudar. Devemos garantir maior autossuficiência energética e maior diversidade de fontes”, acrescentou.

O primeiro-ministro de Granada, Kieth Mitchell, quer que seu país se converta em “centro de excelência” em economia limpa e verde, acabando com o monopólio da eletricidade e o alto custo da importação de combustíveis fósseis. Mitchell afirmou que, apesar da ajuda petroleira venezuelana por meio do esquema PetroCaribe (graças ao qual muitas nações caribenhas adquirem o petróleo em condições preferenciais), as tarifas de eletricidade em Granada estão entre as mais altas da região.

“Agora trabalhamos com sócios em energias solar, eólica e geotérmica para converter Granada em um exemplo”, ressaltou Mitchell à IPS. Ele acredita que a Conferência dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, prevista para setembro em Samoa, deve discutir vias para que esses países procurem energia acessível, barata e sustentável.

“A ameaça da mudança climática é real, e supõe um perigo claro e presente para a sobrevivência dos pequenos Estados insulares”, acrescentou Mitchell, “Exortamos a comunidade internacional a liberar os tão prometidos recursos para ajudar países pequenos como Granada a agirem mais rápido na mitigação de riscos de desastres”, pontuou.

No mês passado, a Universidade da Guiana anunciou um programa no valor de US$ 840 mil destinado a gerar tecnologias aplicadas a energias renováveis, em associação com a Universidade Anton de Kom, do Suriname, e com a Universidade Católica de Lovaina, da Bélgica. O objetivo geral é melhorar a capacidade das universidades da Guiana e do Suriname para oferecer programas e cursos sobre tecnologias associadas às energias renováveis.

O ministro de Recursos Naturais e Ambiente da Guiana, Robert Persaud, disse que uma das principais necessidades do setor manufatureiro é acesso a energia barata. “É um imperativo econômico desenvolver não só energia limpa, mas também barata, e temos muita sorte em possuir os recursos que podem nos proporcionar as duas coisas. O mais acessível é a energia hidrelétrica”, afirmou à IPS.

Ao apresentar o orçamento ao parlamento no final de março, o ministro das Finanças da Guiana, Ashni Singh, disse que, com a intensificação dos impactos adversos da mudança climática, o governo deve manter um “enfoque de desenvolvimento econômico baixo em carbono e resiliente em relação ao clima”. Esse enfoque se apoia em um “compromisso inquebrantável com uma boa governança das florestas”. A Guiana recebeu US$ 115 milhões da Noruega dentro de sua Estratégia de Desenvolvimento Baixo em Carbono.

Singh informou que este ano serão destinados US$ 90,6 milhões para a implantação do Fundo de Investimentos da REDD+ (Redução de Emissões Causadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas) guianense. “A Guiana está a caminho de ter o primeiro mecanismo REDD+ em vigor até 2015. Isso permitirá ao país ter mais renda com a venda de créditos de REDD+ do que tem hoje”, disse o ministro ao parlamento.

Mas os estudos por país incluídos no informe apresentado na reunião de Santa Lúcia mostram uma região seriamente limitada em matéria de financiamento para projetos verdes. A investigação sobre a Jamaica, por exemplo, conclui que esse país continua sendo dependente da exportação de recursos naturais e da importação de energia, enquanto os serviços da dívida externa representam mais de 140% de seu produto interno bruto. Todos esses fatores limitam a implantação de novas políticas.

Quanto ao financiamento, Smith afirmou que não seria má ideia o Banco Mundial considerar permitir aos países caribenhos acesso a financiamento em condições favoráveis enquanto seus índices de desenvolvimento humano não chegarem a 0,8 ponto. “Queremos procurar energia renovável e a baixo custo. Queremos nos assegurar que o capital humano e também o ambiental se mantenham”, ressaltou. O ministro também sugeriu que as nações caribenhas cobrem por serviços ambientais e pelo uso de suas praias, e explorem formas inovadoras de cancelar suas dívidas. Envolverde/IPS

Peter Richards

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *