Refugiados sírios enfrentam tempestades no Líbano com papelão

Trípoli, Líbano, 16/01/2013 – Zuhur Al Khalaf está grávida de oito meses e vive em uma improvisada habitação sem divisão alguma no norte do Líbano, com seu marido e cinco filhos.

Refugiados sírios enfrentam tempestades no Líbano com papelão

Refugiados sírios sofrem as inclemências do clima no norte do Líbano. - Zak Brophy/IPS

As paredes de tapumes e o teto de papelão e papel ficaram empapados e se deterioraram após as fortes tempestades da semana passada. Além disso, dois de seus filhos estão com febre e infecções respiratórias.

A família fugiu da cidade síria de Homs, quando sua casa foi destruída em uma dura batalha pelo distrito de Bab Al Amr, no começo do ano passado, que terminou com o bombardeio da área pelas forças do regime de Bashar Al Assad. "Fugimos de um lugar para outro até que não ficou ninguém, então viemos para o Líbano, há uns três meses", conta Zuhur. A moradia da família está em meio a um acampamento com mais de 200 refugiados, nos arredores da cidade libanesa de Trípoli.

Sua situação se agravou com as últimas tempestades, com nevascas e inundações em grande parte do Líbano. "Estes abrigos não nos dão nenhuma proteção. Tudo ficou molhado e ainda faz muito frio", contou a mulher. Seus dois filhos doentes jazem encolhidos debaixo de umas cobertas, ao seu lado. Um punhado de pedaços de pão molhados seca do lado de fora sobre folhas de jornal. "Vivemos a pão, chá e bananas", disse outro refugiado do acampamento. "Não podemos nos dar o luxo de desejar nada", opinou.

As famílias alugam barracas de campanha de um agricultor da região por cerca de US$ 70 por mês, e tentam encontrar trabalho na agricultura. Os homens podem levar à sua família, no máximo, o equivalente a US$ 10 após um dia de trabalho, e as mulheres US$ 7, mas a maioria dos refugiados não pode encontrar ocupação remunerada. "A vida aqui é melhor do que na Síria, mas, na verdade, é ainda muito ruim para nós. Não há trabalho e não recebemos o apoio que precisamos", lamentou Zuhur.

Perto de 200 mil pessoas fugiram para o Líbano desde que começou a crise interna síria, há quase dois anos, segundo os últimos números do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Muitos dos que vivem no acampamento não estão registrados junto a esta agência da ONU e, portanto, não recebem nenhum dos serviços básicos de apoio que ela oferece. "Perdemos nossos documentos quando nossa casa foi destruída, por isso não temos nada que prove quem somos", disse o marido de Zuhur, Mohammad Al Ahmad.

Alguns refugiados preferem não se registrar no Acnur por medo de serem vigiados pelas autoridades. A paranoia é comum. Muitos temem que os serviços de inteligência sírios tenham se infiltrado no Líbano. "Prefiro viver de forma anônima", afirmou Abul Nidal, originário da cidade síria de Idlib. "Qualquer coisa pode acontecer no futuro, e o que acontecerá se tivermos de voltar à Síria?", questionou.

As autoridades libanesas pediram a ajuda dos demais Estados da Liga Árabe, na sessão extraordinária do grupo realizada no dia 13, no Cairo, alertando para "uma perigosa situação humanitária". Beirute acaba de anunciar um plano de US$ 180 milhões anuais para fornecer serviços básicos de saúde e educação aos refugiados. Mas o Líbano está em meio a uma paralisia política interna devido à sua precária situação fiscal, e a limitada infraestrutura é obstáculo aos esforços para proporcionar os serviços necessários.

O conflito sírio gera profundas divisões internas no Líbano, e isto também afeta a capacidade de dar atenção aos refugiados. A falta de uma política coerente do governo impediu a instalação de acampamentos formais para os sírios que fogem de seu país, como ocorreu na Jordânia e na Turquia.

"Em outros países vizinhos há acampamentos adequados, de tal maneira que as organizações sabem onde estão as pessoas e quais serviços necessitam", disse Ashraf Alhafny, coordenador de projetos da organização Warad, que distribui camas e roupa entre a comunidade de refugiados no norte libanês. "Mas aqui tudo é tão informal que não se sabe do que necessitam nem onde estão", observou.

Além do clima hostil, as dificuldades econômicas e a falta de apoio material, muitos refugiados são vítimas de racismo. Líbano e Síria têm uma história comum e muitas vezes conflituosa, e a chegada de refugiados sírios está exacerbando a instabilidade política e a vulnerabilidade econômica libanesas. Dois jovens refugiados contaram como foi o dia deles, em que, basicamente, se dedicaram a mendigar nas ruas. "Me bateram", disse um. "As pessoas mandam nos afastar e dizem que somos um sírio, um cigano", lamentou outro. Envolverde/IPS

Zak Brophy

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