Hebron, Palestina, 22/01/2013 – Todos os dias, Anas Maraka passa pela deteriorada casa ancestral de sua família na rua Shuhada, antiga zona do mercado nesta cidade da Cisjordânia, mas não pode entrar.
![Os esforços de reabilitação permitiram que dez mil palestinos regressassem à cidade velha de Hebron. - Jillian Kestler-D"™Amours/IPS Recuperando o patrimônio cultural](http://www.ipsnoticias.net/portuguese/fotos/patrimonio.jpg)
Os esforços de reabilitação permitiram que dez mil palestinos regressassem à cidade velha de Hebron. - Jillian Kestler-D"™Amours/IPS
"Gosto da cidade velha. É nossa cultura. Nossa meta é recuperar as casas e trazer de volta seus antigos moradores. Queremos melhorar a qualidade de vida", disse Maraka, membro do Comitê para a Reabilitação de Hebron. Maraka contou à IPS que, em 15 anos de trabalho, o Comitê renovou cerca de 900 casas na cidade velha de Hebron. Estes projetos permitiram que aproximadamente dez mil palestinos voltassem à região, acrescentou.
"Depois da segunda Intifada (levante popular palestino contra a ocupação israelense), a maior parte das pessoas deixou suas casas. Tinham medo de voltar por causa dos colonos e militares israelenses", explicou Maraka. "não poderão viver facilmente na cidade velha, mas procuramos trazê-los de volta. Não podemos abandonar esta área, porque assim virão os colonos e ficarão com as casas", acrescentou.
Segundo estudo feito em 2006 pelo grupo israelense de direitos humanos B'Tselem, mais de mil casas palestinas foram abandonadas e mais de 1.800 comércios foram fechados no centro de Hebron como resultado das restrições impostas por Israel à área. Isto representa cerca de 42% das casas e 77% dos negócios pertencentes aos ocupantes originais da cidade.
Atualmente, cerca de 500 colonos judeus vivem em cinco assentamentos no coração de Hebron, área conhecida como H2. Sua presença é protegida por milhares de policiais e soldados israelenses. Na cidade velha também habitam entre 15 mil e 20 mil palestinos, onde enfrentam inúmeras restrições de movimento e um quase constante assédio e violência por parte de soldados e colonos de Israel.
No dia 12 do mês passado, um oficial da polícia de fronteira israelense matou Mohammad al-Salaymeh, um morador de Hebron de 17 anos, em um posto de controle perto da mesquita de Ibrahimi, na cidade velha. As autoridades israelenses disseram que o jovem havia ameaçado os soldados com uma arma, que na verdade era um brinquedo. Após o assassinato, violentos enfrentamentos ocorreram entre soldados israelenses e jovens palestinos.
"Queremos que os palestinos continuem vivendo nesta área, que resistam. É um lugar importante para toda a Cisjordânia. É difícil, mas continuaremos ajudando no que pudermos", afirmou Maraka. Os palestinos recuperaram e renovaram prédios na Cisjordânia por décadas. Hoje, aldeias e cidades inteiras estão reabilitadas.
Estes esforços são parte de uma estratégia para manter o rico patrimônio palestino nos territórios ocupados, destacou o arquiteto e urbanista Iyad Issa. que trabalha na Riwaq, instituição com sede em Ramalá dedicada à conservação arquitetônica. "É parte de nossa história, de nossa identidade", afirmou, acrescentando que a reabilitação de moradias permite manter viva a "memória visual e o patrimônio cultural tangível" dos palestinos.
Issa disse à IPS que a Riwaq registrou cerca de 50 mil prédios históricos na Palestina que necessitam de reparos e conservação. Até agora, foram recuperados cerca de cem em 90 povoados palestinos, enquanto em outras quatro localidades acontece uma reconstrução geral da infraestrutura. "É uma foram criativa de aproveitar o espaço, fornecer infraestrutura social e cultural e dar novas possibilidades à comunidade", destacou o arquiteto, explicando que o valor arquitetônico e o impacto social das obras são os dois critérios principais na hora de escolher o edifício a ser restaurado.
A localidade palestina de Birzeit, ao norte de Ramalá, é um exemplo de uma comunidade beneficiada por uma reabilitação geral. A cidade conta com cerca de 200 prédios históricos, incluindo mais de cem na cidade velha, alguns datando do sultanato mameluco. A revitalização melhorou o desenvolvimento social e econômico da cidade, atraindo turistas. Contudo, segundo Issa, é importante manter a atenção em comunidades menores e isoladas, garantindo que seus moradores tenham infraestrutura para sua próprias necessidades. "Os habitantes dos povoados estão bem marginalizados. Este patrimônio pertence à comunidade de deve ser usado por ela", afirmou. Envolverde/IPS