MUDANÇA CLIMÁTICA: Uma mesa vazia na COP 18

Doha, Catar, 07/12/2012 – As conversações climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) estavam, ontem, à beira do colapso, segundo uma coalizão da sociedade civil e representantes de metade dos países do mundo.

MUDANÇA CLIMÁTICA: Uma mesa vazia na COP 18

Policiais retiram as credenciais dos jovens ativistas árabes frustrados com a falta de liderança pública na COP 18. - adopt a negotiator/cc by 2.0

Uma vez mais, as nações ricas não estão colocando nada na mesa, isto é, maiores reduções de suas emissões contaminantes e maior apoio financeiro para os países pobres, disse Celine Charveriat, diretora de lobby e campanhas da Oxfam Internacional.

"Isto é igual às negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde os países ricos se negam a tudo até o último minuto", disse Charveriat à IPS. Segundo ela, o clima está carregado de tensão e irritação na véspera do encerramento da 18ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 18).

"Necessitamos maior ambição da parte dos países industriais. Do contrário, os extinguiremos", disse Emmanuel Dlamini, presidente do grupo de negociadores africanos. Com "ambição" me refiro a maiores reduções nas emissões, principalmente das derivadas da queima de combustíveis fósseis. Ainda que importantes economias industrializadas como Estados Unidos, Japão, Canadá e União Europeia consigam as reduções prometidas, é provável que a temperatura média do planeta aumente entre quatro e 20 graus, segundo os últimos estudos científicos.

A vasta maioria das emissões de carbono que contribuem para a mudança climática têm origem em nações industrializadas. "Quando reclamamos maior ambição eles (os países industriais) dizem que estamos criando obstáculos ao progresso", disse Dlamini em uma entrevista coletiva.

Se não houver um aumento da ambição em Doha, quando haverá?, perguntou Yeb Sano, que está à frente da delegação filipina. "Centenas de milhares de meus compatriotas estão hoje sem teto e em abrigos após o tufão Bopha", afirmou Sano. "Nos negamos a fazer disto um modo de vida. não devemos fazer simplesmente o que nos indicam nossos amos políticos, mas o que necessitam sete bilhões de pessoas. Doha deve ser o lugar onde reverteremos as coisas", acrescentou.

Boa parte da irritação se deve à negativa dos Estados Unidos em se comprometer com nada novo. "A equipe negociadora norte-americana deveria ser substituída", disse Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional. Para ele, os atuais delegados passaram quatro anos bloqueando as negociações.

"Por culpa da mudança climática as pessoas estão morrendo, perdendo suas casas, seus meios de sustento, suas fontes de alimento. É entristecedor ver que negociadores de países ricos bloqueiam ativamente o avanço a fim de manter os lucros de suas indústrias de carvão, petróleo e a silvicultura", disse Naidoo aos jornalistas.

Os Estados Unidos lançam a maior quantidade de carbono na atmosfera, e tem a maior responsabilidade de atuar para reduzir as emissões e dar ajuda financeira aos países mais pobres que já sofrem os impactos, acrescentou Naiddo.

O Greenpeace uniu-se a ActionAid, Christian Aid, Amigos da Terra, Oxfam, Fundo Mundial para a Natureza e nações africanas e de outras regiões para dizer que o acordo final de Doha deve incluir u aumento dos financiamentos públicos para o clima a partir de 2013, profundas reduções das emissões e um mecanismos para abordar as perdas e os danos causados pela mudança climática.

O clima político e público em torno da crise financeira na Europa não nos permitirá ir mais longe, disse Kristina Ruby, assistente do chefe dos negociadores da União Europeia, que propõe uma avaliação obrigatória das reduções de emissões em 2014. "O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convoca uma cúpula de líderes mundiais sobre isto para 2014. E, nessa oportunidade, o Grupo Intergovernamental de Especialista sobre a Mudança Climática (IPCC) terá divulgado sua última avaliação científica", disse Ruby à IPS.

Há progressos, mas não são suficientes, afirmou, lembrando que a China vem entorpecendo esses avanços porque deseja maior ambição da parte das nações industriais. "Uma das chaves do êxito aqui é conseguir que os Estados Unidos façam algum novo compromisso financeiro", afirmou Ruby. As nações pobres dizem que precisam de pelo menos US$ 60 bilhões para o período 2012-2015, para ajudá-las a enfrentar os efeitos da mudança climática.

Nos últimos 30 anos essas nações experimentaram aumento de 600% na quantidade de eventos extremos, segundo o gigante dos seguros Munich Re. Os governos encontraram bilhões de dólares para resgatar o setor financeiro. Esta é uma crise muito maior, ressaltou Charveriat.

O Canadá é outro importante vilão que obstrui os avanços em Doha, acrescentou Charveriat. Este país "se tornou rico e próspero a partir de sua enorme indústria dos combustíveis fósseis. E aqui comparece sem oferecer absolutamente nada para pagar sua contaminação da atmosfera. O que aconteceu com o Canadá. Costumava ser um líder. Agora é um dos mais atrasados, ficando bem ao fundo junto com os Estados Unidos", acrescentou. Envolverde/IPS

Stephen Leahy

Stephen Leahy is the lead international science and environment correspondent at IPS, where he writes about climate change, energy, water, biodiversity, development and native peoples. Based in Uxbridge, Canada, near Toronto, Steve has covered environmental issues for nearly two decades for publications around the world. He is a professional member of the International Federation of Journalists, the Society of Environmental Journalists and the International League of Conservation Writers. He also pioneered Community Supported Environmental Journalism to ensure important environmental issues continue to be covered.

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