A austeridade afunda ainda mais a Europa

Berlim, Alemanha, 27/11/2012 – Os programas de austeridade, aos quais recorre a União Europeia (UE), não conseguem melhorar as finanças públicas para chegar a uma solução para a severa crise de dívida soberana. Pelo contrário, agravam ainda mais o problema, como demonstram em particular os indicadores de Espanha, Grécia, Itália e Portugal. Estas iniciativas, que incluem fortes reduções no gasto com educação, saúde e governança, "levam a uma loucura coletiva" e inclusive a "uma crise social" em todo o bloco de 27 países, afirmam os especialistas ouvidos pela IPS.

Longe de resolver a crise, com foi prometido ao serem impostas pelas autoridades, os atuais planos de consolidação fiscal elevarão a relação entre dívida e produto interno bruto em 2013 na UE, segundo um estudo do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social (Niesr), com sede em Londres. Numerosos estudos europeus confirmam hoje o que vários economistas e ativistas vêm alertando há meses e até há anos: que a crise econômica, causada pelo colapso financeiro de 2007-2008 e o consequente resgate de bancos e fundos de investimento pelos Estados levou ao crescimento do desemprego e à consequente pobreza de vastos setores da sociedade na UE.

Segundo dados do escritório de estatísticas do bloco, o Eurostat, o desemprego no bloco chega a 10,6% da população economicamente ativa. Nesse contexto, os jovens aparecem entre os mais prejudicados. Na Espanha, Grécia, Itália, Irlanda e Portugal afeta, em média, entre 30% e 50% deles. A situação é especialmente difícil na Grécia, onde o desemprego juvenil aumentou mais que o dobro desde 2008 e ficou em 55,4% dos ativos dessa faixa etária em 2012. Na Espanha, onde o indicador estava em 37% em 2008, a crise deixou 50% dos jovens sem emprego.

A deterioração social na Grécia, onde os sindicatos convocaram nova série de greves gerais em resposta a novo corte no orçamento, desta vez de US$ 17 bilhões, não indica nada de bom para o futuro do bloco sob a austeridade. O último estudo do Centre for Economic and Business Research (CEBR), com sede em Londres, prevê que a zona do euro seguirá em recessão em 2013, com "um provável crescimento marginal" em 2014. Segundo o estudo Global Prospects Report, divulgado no dia 5, as perspectivas são especialmente calamitosas para Espanha, Grécia e Itália, com probabilidade de crescimento negativo, e a previsão para 2013 é de contração do PIB de 7%, 1,8% e 2,2%, respectivamente.

"A situação econômica em alguns países da Europa vai de má a catastrófica", disse à IPS o diretor executivo do CEBR, Douglas McWilliams, um dos autores do estudo. "Há risco de os problemas econômicos derivarem em conflitos sociais em muitos países, pois o desemprego dispara e os governos ficam sem dinheiro", acrescentou. Outra análise sobre a situação econômica e social na Europa, divulgada no dia 1º, realizada por dois economistas de carreira do Niesr, vai mais além, e afirma que os programas de austeridade do continente são "contraproducentes".

O cenário mais favorável previsto pelo Niesr para 2013 prevê o agravamento da depressão atual. Segundo seus cálculos, as medidas de austeridade terão impacto negativo sobre a relação entre dívida e PIB, de 8,9% na Grécia, 7,7% em Portugal, 4,2% na Espanha e 1,9% na Itália. Jonathan Portes, um dos autores do estudo, disse à IPS que a análise das atuais políticas fiscais europeias leva à conclusão de que, "em épocas normais, a consolidação fiscal leva à queda da relação entre dívida e PIB, mas, nas atuais circunstâncias, de fato, provavelmente resulte contraproducente" para a União Europeia de forma geral.

"O futuro imediato da Europa depende de 94 milhões de europeus entre 15 e 29 anos", afirma um estudo divulgado em outubro pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), órgão autônomo da UE. O desemprego juvenil foi de 33,6% (cerca de 19,5 milhões de pessoas) em 2011, "o mais baixo na história da União Europeia", ressalta o informe. Entretanto, há grandes variações entre os Estados- membros, com taxas abaixo dos 7%, em Luxemburgo e Holanda, até mais de 17% na Bulgária, Espanha, Irlanda e Itália.

"As consequências de uma geração perdida não são meramente econômicas, mas sociais, com o risco de os jovens optarem por não participarem da democracia", alerta o estudo da Eurofound. As perdas resultantes de haver tantos jovens improdutivos, em termos de produção, chegam a 153 bilhões de euros (US$ 195 bilhões) ao ano, ou 1,2% do PIB da UE, detalha. Stefano Scarpetta, subdiretor de assuntos sociais, emprego e trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos, afirmou que a Europa "falha em seu contrato social" com os jovens, e alertou que o desencanto político pode chegar ao grau que motivou revoltas no norte da África e que produziram a Primavera Árabe.

Segundo um estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em maio, o desemprego juvenil nessa região aumentou cinco pontos percentuais em 2011, chegando a 27,9%. A situação se repete em vários países da União Europeia, onde o descontentamento emergiu sob o lema "indignados", na Espanha, e de maciças mobilizações de jovens em Portugal, Grécia e outros países do sul da Europa. Envolverde/IPS

Julio Godoy

Julio Godoy, born in Guatemala and based in Berlin, covers European affairs, especially those related to corruption, environmental and scientific issues. Julio has more than 30 years of experience, and has won international recognition for his work, including the Hellman-Hammett human rights award, the Sigma Delta Chi Award for Investigative Reporting Online by the U.S. Society of Professional Journalists, and the Online Journalism Award for Enterprise Journalism by the Online News Association and the U.S.C. Annenberg School for Communication, as co-author of the investigative reports “Making a Killing: The Business of War” and “The Water Barons: The Privatisation of Water Services”.

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