MUDANÇA CLIMÁTICA: Programa do Pnud prioriza ação concreta, no Uruguai

Montevidéu, 04/01/2010 – Combater o aquecimento global na linha de frente, e com participação de todos os setores da sociedade, é a base de um projeto-piloto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Uruguai, que chama a atenção no resto do mundo. A ideia é detectar as áreas mais vulneráveis e criar estratégias de adaptação e mitigação, não apenas com a opinião de especialistas, mas, especialmente, com a contribuição dos envolvidos, disse à IPS o coordenador do projeto, Federico Ferla.

As estratégias serão desenvolvidas com uma metodologia de trabalho participativo, ao contrário das poucas experiências feitas até agora, fundamentalmente em países industrializados, onde, no geral, o que fazem é, basicamente, através de equipes de especialistas, que entregam um relatório à consideração das autoridades”, disse Ferla. “Será um processo participativo com a presença de atores relevantes em nível local, naturalmente com um papel forte dos técnicos e autoridades, mas também com representantes locais de organismos centrais, do setor privado, de organizações não-governamentais, universidades, empresas públicas e comunidades”, acrescentou.

O projeto do Pnud tem apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e é implementado através do Program ART (Apoio às Redes Territoriais), plano de cooperação que integra esta agência da Organização das Nações Unidas com as autoridades locais e nacionais. A iniciativa, lançada oficialmente em setembro, está na fase de elaboração de estratégias de adaptação e mitigação, com a formação de grupos de trabalho multisetoriais nos departamentos de Canelones, Montevidéu e San José.

Estes três departamentos “têm um peso sócio-econômico muito grande, com cerca de dois milhões de habitantes (em um país de 3,3 milhões), e aproximadamente dois terços do produto interno bruto” nacional, disse Ferla. Além disso, explicou que a região responde pela maior parte das emissões de dióxido de carbono, embora este não seja o principal gás-estufa emitido pelo Uruguai, mas sim o metano, devido ao importante peso da produção pecuária.

O projeto-piloto foi apresentado na Cúpula de Governadores contra a Mudança Climática, realizado na cidade de Los Angeles (EUA) entre 30 de setembro e 2 de outubro de 2009, e na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), entre 7 e 18 do mês passado em Copenhague (Dinamarca).

O administrador de Canelones, Yamandú Orsi, explicou que a iniciativa permitirá implementar medidas concretas contra o aquecimento global diante da falta de entendimento em nível intergovernamental. “Quando em nível macro os acordos são muito difíceis de se alcançar, como vimos em Copenhague, abaixo podem ser tecidas alianças e intercâmbios”, disse à IPS. “Vimos que, segundo os países, entre 70% e 75% das emissões de gases-estufa são gerados por decisões tomadas em nível subnacional, que incidem nos investimentos, no transporte, nos deslocamentos, nos hábitos de consumo. Assim, as decisões que possam ser tomadas para mitigação são altamente efetivas”, disse, por sua vez, Pablo Mandeville, representante permanente do Pnud no Uruguai.

Os três departamentos escolhidos representam um leque bem amplo das vulnerabilidades mais importantes do Uruguai. Esta zona metropolitana enfrenta, por exemplo, riscos pela elevação do nível do mar, com ameaças importantes nas regiões costeiras e de mangues. “Também tem uma importante vulnerabilidade social. A região concentra grande parte dos assentamentos irregulares urbanos, com mais de 150 mil habitantes”, explicou Ferla. “Além disso, há concentração de pequenos produtores bastante vulneráveis, o que supõe insegurança alimentar. O leque de riscos é bastante amplo e permite trabalhar em diversas áreas”, acrescentou.

Mandeville explicou à IPS que o primeiro passo é fazer um mapeamento das vulnerabilidades da região, e depois elaborar estudos de prospecção dos riscos de eventos extremos para decidir medidas de adaptação. Por exemplo, um dos lugares detectados com altos riscos diante dos efeitos do aquecimento global na região metropolitana uruguaiana é a bacia do rio Santa Lucía. “Há perigo de as cheias provocarem desastres naturais, e também que se combinem com as inundações e tenham um efeito catastrófico, já que na bacia temos a única estação de bombeamento de água potável para a zona metropolitana”, explicou Mandeville.

“Talvez, uma medida de adaptação seja criar, em caso de risco, uma segunda estação de bombeamento. Pode ser redundante gora, mas poderia evitar uma catástrofe maior no futuro”, disse o representante do Pnud. “O que aconteceu com a passagem do furacão Katrina em 2005 nos Estados Unidos demonstrou que, às vezes, uma combinação de fatores pode ser totalmente catastrófica para uma área povoada. E os lugares mais vulneráveis, em todo o mundo, são as populações”, acrescentou.

O projeto despertou interesse em Copenhague, e diversas regiões africanas, especialmente de Uganda, Argélia e Senegal, bem como da Europa e América Latina, expressaram sua intenção de aplicá-lo. (IPS/Envolverde)

Raúl Pierri

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